COMPRA-SE JORNALISTA; PAGA-SE MAL


O título acima faz alusão à reportagem de Gil Campos que chegou a ser indicada para o Prêmio Esso 1989, “Mata-se jornalista; Paga-se bem”. Falava algo sobre a morte encomendada de jornalista, e mais não sei porque nunca consegui ter acesso ao texto (Gil bem que poderia disponibilizar para a gente).

O caso é que, por estas terras paraibanas, arrumaram um jeito mais eficiente e barato de calar a imprensa: comprando. (Adianto: sei que é um problema não só da Paraíba, mas devo focar na realidade em que convivo.)

Como diz o professor (e filósofo) Luís Barbosa Aguiar, aqui não existe liberdade de imprensa, mas apenas liberdade de empresa. E a empresa é livre pra se vender a quem quer, e atuar pelos interesses de seus donos, de forma que o pobre repórter se vê ante a necessidade de fazer um jornalismo meia boca pra poder arranjar a feira no fim do mês, valendo-se da ética da barriga, outro axioma legítimo do professor Aguiar.

Nessas horas que, por sinal, ter um emprego público traz alívio.

Mas o que mata de desgosto mesmo não é a venalidade das empresas, e sim o fato de tantos dos nossos colegas venderem até a alma por qualquer tostão a mais. Verdadeiros jornalistas-meretrizes, rodando bolsinha nas redações e salões políticos, fazendo programinhas a custo inferior ao que deve cobrar uma daquelas tantas quengas mal acabadas que vendem seus corpos nada atraentes nas noites da rua João Pessoa.

Por causa destes que fatos como o que conto agora nos acontecem. Dias atrás, um indivíduo que foi candidato a prefeito numa cidade perto de Campina Grande teve seu nome denunciado na Polícia Civil pela própria mãe, segundo a qual ele teria usado seu cartão de aposentada para fazer empréstimos, sem seu conhecimento. Até aqui, notícia policial.

Ocorre que atendo ao telefone, e um vereador do mesmo município, desafeto político do acusado, liga querendo saber se o caso vai sair no jornal. Respondo que isso vai depender dos editores e o tal, não muito satisfeito, antes de desligar lança sua cartada final: “Veja aí o que dá pra fazer; Podemos ajeitar um agrado”.

Agrado! Coisa que namorado de viúva usa pra despachar os filhos da enlutada, com uns trocados pra comprar chiclete, e ficar mais à vontade para consolá-la.

Disse um não redondo e bati o telefone na cara do safado. Mas queria mesmo era gravar a conversa, dar corda, receber o agrado e fazer uma bela reportagem de capa entregando esse sujeito: “Vereador tenta subornar repórter para escrever matéria contra adversário”. Todavia, para tanto, precisaríamos de mais alguma liberdade de imprensa. Não houve a reportagem, e a manchete da capa foi sobre algum muro que a chuva derrubou. Sem vítimas.

Lenildo - www.blogdolenildo.com

Suborno by Wiki: O suborno é a prática de prometer, oferecer ou pagar a uma autoridade, governante, funcionário público ou profissional da iniciativa privada qualquer quantidade de dinheiro ou quaisquer outros favores (desde uma garrafa de bebidas, jóias, propriedades ou até hotel e avião em viagem de férias) para que a pessoa em questão deixe de se portar eticamente com seus deveres profissionais.

3 Reagiram:

Lenildo Ferreira disse...

Fala, Murilo. É um prazer ter meu texto no seu blog, que por sinal já estou dando uma espiada. Parabéns e um forte abraço.

Juninho Xavier disse...

Logo na Minha Querida Terra!! Aposto que meus Queridos Amigos nem Imaginem que sou um Legítimo Paraibano de Itaporanga (sertão paraibano). Quanta Prostituição Na Imprensa, tsc tsc tsc!!

Tati disse...

é a dura realidade! Não me admiro pelos que compram, mas lastimo pelos que se vendem...

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